Caraíva
Dias ensolarados e noites claras de luar, entre rio e mar

Caraíva é considerado o vilarejo mais antigo do Brasil. De pescadores, índios um tanto “modernos”, baianos. Tem uma beleza indescritível, mistura de Mata Atlântica, rio e mar, e um jeito de terra baiana que cresce devagar, devagarzinho. Luz elétrica, há dois anos não havia. E ela chegou como devia chegar, por baixo da terra, iluminando pouco. As ruas ainda são de areia, e os índios Pataxós passeiam pela praia com inúmeros colares pendurados no pescoço, para vender aos turistas.

Carros não entram, ficam no estacionamento do outro lado do rio. Ao chegar, depois de percorrer 32 km de estrada de terra, partindo do trevo de Trancoso, extremo sul da Bahia, a travessia é feita numa canoa. À esquerda, lá no fundo, uma imagem marca, e diz muito do que está por vir: o encontro das águas esverdeadas do rio Caraíva com o azul do mar, cartão postal de uma vila de natureza exuberante, quase intocada pelo homem.

Perfeita para quem quer fugir do caos, do stress, do barulho, Caraíva é um daqueles lugares onde você pode cultuar a arte de não fazer nada: deitar numa esteira na beira da praia, tomar água de coco, ver o dia passar e esquecer que tem mais mundo além do rio. Tarefa não muito difícil, já que os três orelhões da cidade vivem quebrados, e poucas operadoras de telefonia cobrem essa área. Só Vivo e Tim, em alguns pontos estratégicos.

Internet funciona mal, mas tem. E, honestamente, se você está indo para Caraíva preocupado em se comunicar com o mundo exterior, é melhor nem ir. Aqui o tempo é outro. É o tempo de quem não precisa e não quer se preocupar com o tempo. Pelo menos por uma semaninha de férias, não? Por isso, esqueça tudo o que deixou lá fora, e aproveite cada segundo!

Mas venha preparado. Na vila não tem caixa eletrônico, e poucos restaurantes aceitam cartão (somente Visa débito) quando a linha telefônica funciona, e é possível concluir a operação. Para ficar tranquilo, leve dinheiro e cheque.

Belezas separadas por rios

Calor? Nem tanto. Em julho desse ano, as temperaturas variaram entre 27 °C e 16 °C. Se está pensando em ir nessa época, leve um casaco. Menos turistas, mais tranquilidade que nos meses de verão. Para esquentar, 3 quilômetros de caminhada até a deserta praia do Satu, ao norte. Chegando lá, água de coco fresquinha e um mergulho numa lagoa de água doce, com vista para o mar.

Para os mais aventureiros, a dica é fazer o percurso a cavalo, até a praia do Espelho, com um guia que conheça a região. Ele dura aproximadamente 2 horas (depende do ritmo do grupo), com uma parada no Satu. Não esqueça de levar chapéu e capa de chuva, pois o tempo pode surpreender, como aconteceu na volta. Brisa fresquinha batendo no rosto, falésias, galope na areia e um mar de águas cristalinas para ver e sentir. Incrível!

Doze quilômetros ao norte levam ao Espelho, e 12 quilômetros ao sul levam a Corumbau. Dessa vez de buggie, com direito a uma parada na aldeia Barra Velha, onde vivem cerca de 709 famílias indígenas da tribo Pataxós. “Os índios dessa aldeia foram os primeiros a ter contanto com a civilização não índia”, conta Sandro, morador da aldeia e guia local.

Com o passar dos anos, a cultura se modificou: no lugar de ocas, casas de barro e cimento. Os índios vestem-se com roupas como as nossas, e falam português fluentemente. Alguns fazem até faculdade. Nem todos dominam o dialeto dos Pataxós, patxohã, que voltou a ser ensinado nas escolas para as crianças, conforme conta Sandro. O artesanato local é um dos principais meios de subsistência. Quem usa um colar de sementes, de acordo com a crença Pataxó, está protegido pela mãe natureza.

Falando em natureza, Corumbau, ainda mais primitivo que Espelho e Caraíva, deixa qualquer um sem palavras. Com a mesma formação rochosa que Abrolhos, é perfeito para mergulhar. Na chegada, estacionamos o buggie embaixo da sombra das árvores, em frente ao rio que leva o nome do vilarejo, e se encontra com as águas calmas e cristalinas do mar. Um mergulho de água doce, um de água salgada, e tempo de relax na barraca Sol e Vida, com direito a suco de cajá e uma deliciosa moqueca de camarão.

Noites de lua cheia, chorinho, forró e Netuno

Caraíva tem esse jeito manso, mas se engana quem pensa que a noite passa em branco. Ela começa com samba, chorinho e pizza no Bar do Porto, e termina com um forró que atravessa a madrugada. Isso quando não se inicia antes, no samba do Boteco do Pará.

A música, de primeira. Nada como sentar embaixo de uma das amendoeiras do Bar do Pará e passar o final de tarde tomando cerveja, jogando conversa fora e comendo pastéis (de camarão com catupiry, arraia com queijo cremoso e napolitano), ao som de Caraivana, banda formada por 6 integrantes de diferentes cidades do Brasil, que se conheceram aqui, em 2005.

Todo ano, Douglas Lora, Juninho Billy Joe, Fabio Luna, Alex Souza, Alexandre Lora e Dudu Maia se encontram onde tudo começou, para fazer música embaixo do céu estrelado, na beira do rio. Nas noites de lua cheia o rio se ilumina, a sombra das árvores aparece na terra, e o visual e o som fazem a alegria dos turistas. Quando o show termina, a noite continua no forró, regada a copos de Netuno, um fermentado de caju e gengibre, bebida tradicional da região.

Nêga Maluca, e outros sabores exóticos

Canto da Duca restaurante vegetariano e café: Pratos vegetarianos, sanduíches, café da manhã e o doce mais famoso da cidade, a Nêga Maluca, receita secreta da Duca. Ir a Caraíva e não comer a Nêga Maluca é o mesmo que ir até a Bahia e não dar um mergulho no mar!

Rua da Praia, S/N.
Tel: (73) 9199-9138

Lagoa restaurante e pousada: Prove a Lasanha Vegetariana, o Fettuccine ao Funghi, a Carne de Sol com Macaxeira e o Caldo de Aipim com Gorgonzola. De sobremesa, o Pavê de Chocolate, ou a Tortinha de chocolate. Ambiente e comida deliciosos.

www.lagoacaraiva.com.br

Bar do Porto: Pizzaria com música ao vivo na alta temporada.
Endereço: Beira do Rio, S/N

Pousadas:

Pousada da Terra: São 7 chalés a 70 metros da praia com ventilador, e ducha quente “poderosa”. O café da manhã é reforçado: Pão integral caseiro, pão de queijo, pão de sal, iogurte caseiro, tapiocas, crepes, aipim cozido, mel e frios.

www.terracaraiva.com.br

Pousada Vila do Mar: a única pousada com piscina de Caraíva, debruçada na beira do mar. São 13 suítes e um bangalô. Todos os quartos são equipados com ar condicionado e frigobar (opção com ou sem TV).

www.pousadaviladomar.com.br

Pousada da Barra: Entre o rio e o mar, quatro bangalôs com ar condicionado, cinco suítes com ventilador ou ar, todas com vista para o mar e varanda privativa. Ótima localização.

http://www.caraiva.com/paginas/apousada.asp

Texto: Luiza Ferrão
luizaferrao@terra.com.br






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